domingo, 7 de agosto de 2011

É o tempo de chegar o vento...

Pensava na rapidez com que as coisas acontecem. Parecem-nos tão lentas, às vezes intermináveis, mas não são. Nada é. O mundo gira, o tempo passa(e não volta, só ensina quem tiver olhos para aprender).

De um estado das coisas a outro, é um “clic” no relógio do Universo. De uma visão sem sonhos ou perspectivas, outros panoramas se desenham. Num “clic”.
A morte de outros é bem elucidativa sobre tudo. Pensamos “como passou rápido, parece que foi ontem” (e foi). Somos perecíveis como bananas expostas. A lição de algumas perdas, é o perdão. per...das, perd...ão, combinam até na raíz.
Tudo passa rápido demais e precisaremos ir sem bagagem, especialmente as imagens ruins que colecionamos de forma burra durante o percurso. É preciso perdoar.
É preciso zerar o hodômetro a cada tanto, mesmo que isso deixe um imenso vazio. Há que se preencher, reconstruir-se de novas e boas bagagens. É preciso sonhar novos e bons sonhos. É preciso repaginar, redecorar, mesmo que seja a casa branca, no meu caso.

Há menos de um ano, ouvi várias vezes “...realiza um sonho e faça-se feliz!!”. Penso que não um , mas um de cada vez, que seja. Penso que, há tão pouco tempo os via inalcançáveis e hoje tão mais palpáveis, quando já me contentava com apenas pensa-los. Se tem uma coisa que aprendi apenas nos últimos anos, foi a sonhar. Vejo que jamais sonhara antes. Quanta estrada entre seu nascimento e hoje.  Quão limitados somos nas horas mais difíceis.
 Ouvi em outro momento pedagógico, que “os maiores obstáculos podem ser teias de aranha que podemos afastar, com a leveza do movimento das mãos”.
Num período de um ano fui capaz de aprender a sonhar, depois ver o sonho ruir, depois querer sinceramente partir para outra esfera (por pelo menos quatro vezes), para depois lentamente e a seguir num “clic”, vislumbrar até mesmo morar em outro país, aposentar-me de algumas amarras locais, aprender finalmente a fluir o maldito inglês, que na verdade sempre esteve dentro de mim e porque agora me interessa, apenas flui, errada ou acertadamente, me faço entender... e bem.
Aproximadamente setenta dias me separam das estradas de outras paisagens. É esse o tempo de que disponho para preparar-me. A partir daí, é tempo de projetar e abrir o “i-déia’s –coffee  & business", tempo de passar quatro meses aqui, outros quatro em Chicago, tempo de promover negócios, eventos e arte. Muita coisa a fazer. Muitos sonhos a realizar, mais do que pude imaginar. Tempo de “viajar”, porque temo mais nada nessa vida.
O medo e a falta de perdão podem deixar-nos de paralisados, até levar-nos à morte.
Por tudo que vi, vivi e vivenciei de outras almas que não a minha, nada temo mais. Aprendi minhas lições e as de outrem.
Decidi ser feliz. Fria e planejadamente( a expressão existe?). Num “clic”, minha criatividade e bagagem, a meu favor. Os uivos dos lobos com quem convivi mostraram sua força, mas e também,  sua vulnerabilidade. O Universo e Sua logística ensinaram-me que posso comprar uma carroça ou um trem bala. Estou disposta a voar.
Coragem e bagagem são a melhor receita. Especialmente, quando não se teme mais nada.
Posso até ter adquirido nova couraça, mas consciente, jamais perderei a Déia. Sou, estou e irei a Déia que sou.
...pensando no perecível e no temporário, outro dia quis testar o que adoro... café, açúcar e canela e, claro, no vento que passava por acaso.
O tempo passa... a vida passa. Apenas, não esquece que as vidas continuam, uma após outra. De forma inexorável.

domingo, 17 de julho de 2011

Será?

Lágrimas são o jeito que nosso coração encontrou de lavar a alma.
Acho que na noite passada viajei um tanto mais longe do que habitualmente. Fica a sensação de que foi muito real.
Outras pessoas usavam mochilas. Vi minhas botas de amarrar, que nunca tive aqui. Minhas mãos suavam da emoção sentida.
Vi trajetos áridos cor de terra mais seca a paisagens do verde que adoro. Imagens que algum dia meus olhos físicos verão. A sensação permanece em mim. Emoção. A busca e encontro de Deus e de mim.
Passei o dia cansada, sem ter me movido um quarteirão. Penso que de fato e de alguma maneira estive lá. Mexida me sinto o dia inteiro. Ausente daqui. Presente e vívida lá.
Antes, durante e ao final, lágrimas. Na verdade, não tenho certeza se concluí o trajeto. Acho que não. Sensação de coisa inacabada.
Não pensava nisso quando sentei a exercitar desenho. Apenas foi o que veio.
A imagem do rosto já tão familiar, jovem, às vezes mais jovem ainda. Às vezes penso se sei de fato desenhar outro. Sei que sei, apenas não faço. É o que vem e que sempre escolho.

sábado, 9 de julho de 2011

Festa dos sentidos




A pequena pasta no canto da área de trabalho está esquisita hoje.
Sento-me como sempre, olhando a cara do Bóris na tela e os cerca de trinta ícones. Até aí, tudo normal.
Todas as pastas com assuntos de trabalho e algumas de coisas de que preciso.
Até perceber a pequena pasta que começa e mexer, aumentar e diminuir de tamanho, tremer, piscar.
Como se precisasse chamar minha atenção. Atende pelo nome de escritos 2010, incorporada agora a escritos de 2011.
Uma em meio a trinta, contém o que de mais significativo já fiz na vida. A que contém. Me contém.
Divertido imaginar todo mundo que está lá. Quase posso ver a carinha de cada um, enquanto o outro setor do meu cérebro pensa, do creme de milho que preparo e das outras seis receitas cremosas para dias de frio.
Enquanto a tal pasta faz horrores pra chamar minha atenção, penso que meu livro de receitas falta lá. Pesquisa certa para os próximos dois dias. Um sub –arquivo a juntar-se aos outros duzentos já existentes. Histórias contadas pelo meu coração na ponta dos dedos, precisam dos temperos e cheiros que completarão a tentativa de me contar em prosa. Quem sabe poesia, ainda que haja gente mais habilitada que eu para a tarefa.
Feliz. Das carinhas dos personagens queridos, aos sabores que ainda quero viver, das telas que fiz e as inúmeras que ainda farei. Das paredes e pisos que ainda não tatuei. Tudo povoa minha mente nesse momento. Uma festa no Planeta Déia. Permito-me  a enésima viagem.
Meu peito está repleto de cores. O jantar está pronto e já não sinto fome. Sou repleta de sabores dos que já fui aos que ainda desejo criar.
Tento sintetizar num único conceito tudo o que me retrata e não consigo. A mistura do cheiro da tinta à óleo, que é perfume, da argila ”albina” que cria outros tons quando queimada, dos temperos em feixes, dos aromas das pessoas que amo. Tudo é um todo que não se mistura, mesmo quando juntos em mim. Cada coisa em cada lugar.
Sentidos exponenciados, como em ”limitless”, as imagens dos olhos internos tentam captar infrutíferas milhares de imagens das que quis produzir às outras tantas que ainda aguardam(coisas ainda saem das paredes). Outro dia, imaginava esculpir plantações de trigo, o arroz que é mais comum por aqui, adoro o seu verde “gritante”. Ainda hoje, pensava  nas formas que poderiam sair da mistura de fibras e lã natural. Criei em minha visão uma long chaise prá lá de confortável em cinco minutos. Imagine-se o que é viver em minha mente em um dia. Ou pior, por 45 anos. Over da over da over dose de idéias. Credo, a grife teria até nome, i-Déia’s.
Sou uma viagem, sei. Aguente quem tiver estômago.
Sei também, quando feliz, absolutamente livre. Solta nas minhas viagens. Sempre divertidas, coloridas, quase uma bandeira gay.
A coisa toda é uma dualidade também. Para quem me vê, com essa cara de senhorinha de meia-idade, postura discreta, pseudo-educada,  sedentária, normalmente acompanhada à noite de praticamente todo o mercosul engarrafado em cabernet, não imagina a louca do bem que habita em mim.
O resto da viagem será somente meu. Fogem as imagens. Ficam apenas sensações. Essas, que são o bônus da louca. Peço licença para sentir.
Sozinha.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Solidão

Solidão
O superego entra na sala e escandalosamente faz essa cara de “...tadinha, como é só!!...”
Pelo amor de Deus, fala sério, quem pensa que solidão é razão de piedade. Gente, todo mundo é em essência, sozinho.
Economizem os muitos anos que levei pra saber que solidão é como Pepsi, só tem ela, pode ser? Pode ser... até pode ser bom.
Especialmente se for falar de artista. E me dou o trabalho de enumerar, economizando teu tempo:
Primeiro: Não é qualquer pessoa que tenha saco, talento, inspiração para aguentar alma de artista. Em uma continha básica, retira aí, o modesto número de 5.436.635.425 pessoas do planeta, que absolutamente não tem qualquer competência para a função para ser companhia para artista.
Segundo: Dos que teriam alguma chance, 495.324.433 têm seu próprio talento, que, portanto tem mais o que fazer a dar importância para o tal neurótico.
Terceiro, pra abreviar o assunto, alguém que tenha seu próprio Universo de realidades paralelas, uma casa branca só sua( milimetricamente pensada)....
Um“Bóris" só seu...
Personagens que só o artista tem ao alcance da sua mão...

... e mais uma infinidade de seres que só povoam a sua mente inquieta...esse ser, definitivamente não é digno de pena.  Quando um tanto, de respeito.
Certamente não é fácil o convívio de uma mente inquieta consigo mesma, excessivamente criativa, em contraponto constante com realidades tão cruas. Mas posso assegurar que é pelo menos mais divertido que a mente só de um teórico sem grandes pretensões criativas. E mesmo esse deve divertir-se um tanto.
Pareço justificar o desnecessário, na intenção de tranquilizar bons samaritanos de plantão.
 Solidão é o olhar do farol. A conotação de tristeza quem agrega somos nós. Atrevo-me a dizer que é a opção de ter um ângulo de visão só seu, desde que nunca cegue.
 É a opção. O bônus é a vista do mar entre o azul profundo e o prata da lua cheia.

Permito-me



Permito-me...
Permito-me hoje a companhia tranquila de mim mesma. Sem ruídos, exceto os que habitam em meus pensamentos desde...sempre.
Há tanto tempo acompanhada(tempo demais) do relógio sempre sem tempo, dos compromissos, dos diálogos nunca pedidos, das convivências nem sempre desejadas, das ditas obrigações dos adultos. De tudo, o relógio é o mais sovina. Sempre sem tempo extra, apressa-nos até em nossos batimentos cardíacos.
O desgraçado pensa que o mundo vai acabar e o pior é que nos convence disso. Como se, ao atrasarmos dez minutos pela manhã, a empresa não abriria, os clientes começariam a gritar por atenção, o chão se abriria em fendas, o trânsito pararia, a cidade ruiria. E por instantes, até acreditamos nas inverdades compulsivas do maldito relógio.
Nossa mente, carente de tempo para si, de prazer do mais puro ócio, encontra arte até em enquadramentos visuais dos mais inusitados.
Tempo. Assunto sempre difícil.

domingo, 27 de março de 2011

Razões

Que sejam as minhas razões diferentes das tuas. Que sejam iguais. Que seja o olhar da mesma forma. Que seja.
Importa é que se faça o caminho da troca. Que haja uma conversa de palavras e pincéis.
O olhar do artista é não raro esquisito.
Humilde e arrogante, continuará a pintar com ou apesar de ti. Esse é seu papel, nasceu tão somente para isso.



Historicamente dito loucos, desequilibrados, estranhos, têm em si apenas a capacidade de um olhar mais atento. Apenas isso.Catarseiam suas questões e as do seu entorno. Emprestam a ti a oportunidade de pensar menos geometricamente .

Trazer

Trazer é a expressão que acabo de criar para um vocabulário cada vez mais particular. Se Aurélio perdoar, pode ser a mistura de trabalho e lazer.
O difícil não é produzir, é desconstruir o que há e reconstruir buscando o novo. Questionamento apregoado, começo a pensar que poderei ser vista como reacionária, na medida que ainda acho válido a busca do belo.


Que a arte sirva como a busca do autoconhecimento, do relaxamento, dos sentimentos mais profundos. Que seja certa, que seja errada, mas que de alçguma forma, "toque" a alma do observador.

Entre trabalhos e lazer, algumas produções

Digital urbana é o nome da proposta de um trabalho onde devemos extrair as marcar ou texturas interessantes do lugar onde vivemos ou de paisagens inusitadas, dessas em que quase tropeçamos  todos os dias sem nunca pousar o olhar mais atento. Vale dar uma olhada:
https://picasaweb.google.com/102682668762311695093/DUs?authkey=Gv1sRgCKKMwpDAm_vtGQ#

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pessoa também tinha a sua...casa branca

Ser Real quer Dizer não Estar Dentro de Mim

Seja o que for que esteja no centro do Mundo,
Deu-me o mundo exterior por exemplo de Realidade,
E quando digo "isto é real", mesmo de um sentimento,
Vejo-o sem querer em um espaço qualquer exterior,
Vejo-o com uma visão qualquer fora e alheio a mim.

Ser real quer dizer não estar dentro de mim.
Da minha pessoa de dentro não tenho noção de realidade.
Sei que o mundo existe, mas não sei se existo.
Estou mais certo da existência da minha casa branca
Do que da existência interior do dono da casa branca.
Creio mais no meu corpo do que na minha alma,
Porque o meu corpo apresenta-se no meio da realidade.
Podendo ser visto por outros,
Podendo tocar em outros,
Podendo sentar-se e estar de pé,
Mas a minha alma só pode ser definida por termos de fora.
Existe para mim — nos momentos em que julgo que efetivamente
                               existe —

Por um empréstimo da realidade exterior do Mundo

Se a alma é mais real
Que o mundo exterior como tu, filósofos, dizes,
Para que é que o mundo exterior me foi dado como tipo da realidade"

Se é mais certo eu sentir
Do que existir a cousa que sinto —
Para que sinto
E para que surge essa cousa independentemente de mim
Sem precisar de mim para existir,
E eu sempre ligado a mim-próprio, sempre pessoal e intransmissível?
Para que me movo com os outros
Em um mundo em que nos entendemos e onde coincidimos
Se por acaso esse mundo é o erro e eu é que estou certo?
Se o Mundo é um erro, é um erro de toda a gente.
E cada um de nós é o erro de cada um de nós apenas.
Cousa por cousa, o Mundo é mais certo.

Mas por que me interrogo, senão porque estou doente?
Nos dias certos; nos dias exteriores da minha vida,
Nos meus dias de perfeita lucidez natural,
Sinto sem sentir que sinto,
Vejo sem saber que vejo,
E nunca o Universo é tão real como então,
Nunca o Universo está (não é perto ou longe de mim.
Mas) tão sublimemente não-meu.

Quando digo "é evidente", quero acaso dizer "só eu é que o vejo"?
Quando digo "é verdade", quero acaso dizer "é minha opinião"?
Quando digo "ali está", quero acaso dizer "não está ali"?
E se isto é assim na vida, por que será diferente na filosofia?
Vivemos antes de filosofar, existimos antes de o sabermos,
E o primeiro fato merece ao menos a precedência e o culto.

Sim, antes de sermos interior somos exterior.
Por isso somos exterior essencialmente.

Dizes, filósofo doente, filósofo enfim, que isto é materialismo.
Mas isto como pode ser materialismo, se materialismo é uma ilosofia,
Se uma filosofia seria, pelo menos sendo minha, uma filosofia minha,
E isto nem sequer é meu, nem sequer sou eu?

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa