segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mãos

Mãos...


Hoje o caboclo escrevedor recebeu seu primeiro pedido. Uma encomenda. Foi-lhe dito: escreve sobre...
Pois bem, a saber, o tal caboclo goste ou não, reside em mim. Tem lá suas exigências e eu as minhas. Tem suas imposições, desejos, pontos de vista. Eu idem.
Pela primeira vez ele pode desejar escrever uma coisa e eu outra. Nesse embate, ver o que pode sair de útil.
Ele deseja  mergulhar nas teias dos relacionamentos das pessoas. Mais que isso, aprofundar a discussão sobre os sentimentos que envolvem seres que se querem, que se desejam. Descreve ele o relacionamento ideal, atreve-se inclusive a mostrar as mãos entrelaçadas, desenhando como elas se combinam e se completam.
Ele pede que entrelaces tuas mãos.
 Nenhum dedo foge ao conforto do encaixe perfeito. Cada dedo cede lugar ao outro que se encaixa. Nenhum reclama do outro. Os dez ficam em perfeita harmonia, enquanto juntos.
Podes pensar, o que tem isso a ver com relacionamentos?
Embora poucos,  raros, quando muito parecidos, podem chegar ao conforto do encontro. Tais relacionamentos têm guardados em si, segredos só seus.
A posse. Sabem-se um do outro. Ninguém precisa provar nada ao outro. Se o fazem, é por pura satisfação de provocar um sorriso.
O carinho sincero. Basta o olhar em qualquer circunstância para trazer conforto. Os iguais têm sua linguagem própria. Não necessariamente precisam expressar em palavras, pois o outro sabe,  antes que palavra seja pronunciada. O bem querer é tão grande, que um quase vive para a felicidade do outro, pois lhes parece óbvio que se um feliz, o outro também.
A ausência de ciúmes seria característica dessas mãos entrelaçadas. Alguns pares levam anos para chegar à óbvia conclusão. Elas sabem que somente aquela encaixa com perfeição na outra. Outro par seria no mínimo, estranho. Não combinaria. A temperatura, textura, forma. Somente duas tem a combinação perfeita.
Uma mão acredita no que a outra é, fala, pensa, diz, sente. É natural, como respirar. Uma mão não pede fé a outra. Conquista.
O aprendizado mútuo é desejado e aceito. A admiração mútua também. Forte combustível, estimula a vontade do momento eterno. Uma mão não quer que o tempo passe, se ao lado da outra. Quer que passe tranquilamente, sorvendo o deleite da convivência. Se uma por qualquer razão vir a faltar, a outra tende a atrofiar, pois igual, sabe nunca mais. Parecidas, talvez. Igual, não mais.
Convido-te a pensar que outras características te parecem verdades sobre o amor, olhando ainda tuas próprias mãos entrelaçadas. Podes ter aí, a idéia de coisas que faltaram ao caboclo te dizer sobre o assunto. Talvez ele não queira dar-te pronto. Talvez ele queira que penses sobre o assunto.

Assisto aqui sentada, as divagações teóricas do caboclo sobre o amor.

Medos


Medos

Não adianta, o caboclo vai frustrar hoje. Aviso-o. Ele aceita e senta-se na poltrona imaginária. Espalha-se confortável. Sabe ele que hoje é dia de ler. Não de ditar. Ferido em seus brios narcisos e egocêntricos, acata com dignidade minha decisão. Abre mão (hoje) dos holofotes.
...conto-lhe algumas passagens reais..
Ter medo não é ausência de coragem. É conseguir ler a íris do dragão, tamanha proximidade. Poder sentir seu bafo na cara e ainda permanecer sem correr, olhá-lo de frente. É nesse instante que o medo vira coragem de tamanho proporcional. As idéias medo/coragem, observo se
completam em seus objetivos. Andam invariavelmente entrelaçadas, quando se aproximam, como se magneticamente. Inexistem separados.
Vejo a Síndrome do pânico com respeito como a uma entidade. Adormecida, conheço sua potência. Sei que, se deflagrada, levo até quinze dias para retomar atividades simples, usando medicação, que deixo perder a validade em casa(graças a Deus), mas que sempre tenho à mão, para qualquer emergência.
Mostro aqui quão necessárias algumas armaduras. A tal coragem tem sido maior. Não por heroísmo, mas por prevenção. Simplesmente preciso ter coragem, ou posso acabar subjugada à moléstia.
Numa equação simples, medo de sentir medo = coragem.
Simples assim, sem heroínas nessa história contada.
O caboclo sério só me olha, digerindo minhas palavras.
Sugiro a ele outro momento para falar sobre pequenas passagens reais. Haverá tempo, pois ainda que o medo seja inerente à vida, a coragem de continuar também.